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Convento da Penha
Saiba Tudo Sobre o Convento da Penha

Convento de Nossa Senhora da Penha
 

Frei Pedro Palácios, irmão franciscano leigo, nascido em Medina do Rio Seco, Espanha, aportou em Vila Velha em 1558 iniciando a construção de uma ermida dedicada a Nossa Senhora, no alto do morro da Penha. Ele trouxe consigo um painel de Nossa Senhora dos Prazeres e encomendou a imagem de Nossa Senhora da Penha, que veio de Portugal, ambos ainda existentes no convento. Aquela capela foi o embrião do atual convento, sendo ampliada e reformada até se tornar o monumento que hoje conhecemos.

No entanto, antes da construção daquela ermida frei Pedro construiu uma outra dedicada a São Francisco e erguida no local conhecido como Campinho, onde se encontra restaurada.

O convento é parte principal de um conjunto formado pela capela de São Francisco, pela gruta de frei Pedro, na entrada velha para o convento, e pela ladeira das Sete Voltas, caminho antigo de pedras, com o seu portão, que representa as sete alegrias de Nossa Senhora — anunciação, visita da prima Isabel, nascimento de Jesus, recebimento do Espírito Santo, apresentação de Jesus no templo, ressurreição e ascensão de Nossa Senhora.

Na década de 1940 construiu-se o novo caminho de acesso rodoviário para o convento, cujo portão foi construído em 1952.

A função do convento continua sendo religiosa, mantendo-se a celebração de missas, mas o santuário recebe também grande número de romeiros e turistas durante o ano inteiro.

Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo

Foi o papa Urbano VIII, em bula de 23 de março de 1630, quem proclamou Nossa Senhora da Penha protetora da terra capixaba. Diz a historiadora Maria Stella de Novaes, na obra Relicário de um Povo, que a bula papal foi confirmada, em 26 de janeiro de 1908, em virtude do resultado de um plebiscito realizado em todas as paróquias da diocese do Estado do Espírito Santo, quando era bispo Dom Fernando de Souza Monteiro. A escolha do fiéis mereceu aprovação do Vaticano, segundo despacho assinado pelo Cardeal Martinelli, em 27 de novembro de 1912, nos seguintes termos: Desde os tempos mais remotos os fiéis cristãos da Diocese do Espírito Santo acompanham com grande carinho o exercício da devoção à Santíssima Virgem Mãe de Deus, sob o título popular — da Penha, cuja imagem, pintada num quadro de madeira, foi primeiramente exposta à veneração pública no ano de 1558 e, em seguida, colocada no templo sobre um alto monte (situado à entrada do porto de Vitória), generosamente construído e dedicado à Imaculada Mãe de Deus, sob o título da Penha da Cidade da Vitória, que é a sede episcopal da célebre Diocese. Por motivo dessa insigne piedade, como a Diocese do Espírito Santo ainda não gozasse de um celeste Patrono, o clero e o povo relembraram o decreto de Urbano VIII, de 23 de março de 1630, escolhendo a Santíssima Virgem Maria, sob o título da Penha, como sua principal protetora junto a Deus e apelam, com suplicantes votos, para que o Reverendíssimo. Sr. Dom Fernando de Souza Monteiro, Bispo do Espírito Santo, consiga essa confirmação apostólica, sendo deste modo exposta ao abaixo assinado — Cardeal Prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos (que), por sua autoridade constituiu e declarou a Santíssima Virgem Maria, sob o título popular - da Penha, principal Padroeira de toda a Diocese do Espírito Santo, no Brasil, com todos os privilégios e honras atribuídos à mesma Padroeira, que competem, por direito, aos principais patronos. Assinado na festa da mesma Santíssima Virgem Maria da Penha, segunda-feira da oitava da Páscoa, conforme entrou em voga o memorável costume de celebrar a mesma festa, no mesmo lugar".


As transformações do Convento da Penha

Informa frei Basílio Röwer, na obra Páginas de História Franciscana no Brasil (S.Paulo, Editora Vozes, 1957), que depois que frei Pedro Palácios faleceu, em 1570 (e não em 1575, como consta de alguns registros), a ermida de Nossa Senhora da Penha foi cuidada por devotos, amigos do seu fundador. Um deles, Nicolau Afonso, que ajudou também a frei Pedro na construção da capela, deu-lhe o formato arredondado e capacidade para umas trinta pessoas. Em 1585, o jesuíta Fernão Cardim, que esteve no Espírito Santo com outros padres inacianos, se refere à igreja da seguinte forma: "A capela é de abóbada pequena, mas obra graciosa e bem acabada. Aqui fomos em romaria dia de S.André e todos dissemos missa com muita consolação". Em 6 de dezembro de 1591, o morro da Penha, desde o sopé até o cume, foi, pela viúva do segundo donatário Vasco Fernandes Coutinho Filho, Luíza Grimaldi, que governava a capitania, doado à Ordem Franciscana, com autorização da câmara da vila do Espírito Santo. Sob a administração dos franciscanos, sediados na vila de Vitória, a capela já contava, em 1639, com casas para romeiros, além de um muro de proteção, em volta do cimo da rocha. Desse ano até 1643, o guardião do convento franciscano, em Vitória, ampliou a igreja de Nossa Senhora da Penha, promovendo ainda o calçamento da velha ladeira das Sete Voltas, que lhe dava acesso. Dez anos depois foram construídos a capela do corpo da igreja e mais um altar lateral que impediram a passagem ao redor do santuário, inclusive de pequenas procissões que ali se faziam. O convento propriamente dito teve sua pedra fundamental lançada em 1651, sendo o guardião Francisco da Madre de Deus o iniciador de suas obras. A planta original previa a construção de nove celas para os religiosos e duas para hóspedes, além de corredores e oficinas (cozinha, despensa etc.), estando condicionada à configuração do rochedo onde o convento se situa. Para a realização das obras, foram essenciais a doação e a ajuda que os franciscanos receberam, notadamente da parte do governador do Rio de Janeiro, Salvador Correia de Sá e Benevides (30 novilhos), doação mantida pelos descendentes do governador até 1848 e que gerava renda para o convento. A partir de 1750, novas obras se acrescentaram às já existentes, que aumentaram a capacidade conventual para o recolhimento de um número maior de frades. Mais reformas ocorreram em 1770 e entre 1774 e 1777, incluindo um novo calçamento da ladeira com o levantamento dos seus muros, na forma em que ainda hoje estão. No século XIX, obras importantes tiveram lugar durante a guardiania de frei João Nepomuceno Valadares, nos períodos de 1853/1857 e 1859/1862, dentre as quais a reforma do telhado e a da capela, além da reconstrução das senzalas dos escravos. O atual alpendre, que dá acesso ao corpo da igreja, de cujo estilo destoa, data de 1879. Antes do convento e do santuário da Penha passar, por determinação da Santa Sé, em 1898, para a Mitra Diocesana do recém criado Bispado do Espírito Santo, outras melhorias se realizaram de 1888 a 1890 e de 1895 a 1896. Na administração da Mitra, continuaram a ser feitas reformas, como a instalação de água e de luz elétrica. Em 1951, no governo Jones dos Santos Neves, deu-se a pavimentação do campinho e da estrada de rodagem que lhe dá acesso. Hoje o convento, que retornou à guarda dos franciscanos desde 1955, conta com instalações elétricas externas, que o iluminam à noite, e com instalações sanitárias modernas, além do serviço de telefone e de alto falante. Recentemente foi aprovada a construção de um teleférico para o transporte de visitantes até o campinho. O convento de Nossa Senhora da Penha é bem tombado pelo Patrimônio Histórico no Espírito Santo.


Os escravos do Convento da Penha

A quantidade de escravos do Convento da Penha espantou frei Basílio Röwer, autor de Páginas de História Franciscana no Brasil, quando estava fazendo suas pesquisas para escrever essa obra. Diz o historiador, também franciscano, que o número de escravos "ultrapassava o de qualquer outro convento". Esta mão-de-obra, de que os franciscanos dispuseram desde os tempos coloniais, era por eles empregada nos mais variados serviços: nas lavouras do pomar, no atendimento do gado e limpeza dos currais, nas atividades da pesca, nos encargos ligados à rotina diária dos conventuais. Fala ainda frei Basílio dos escravos músicos "para solenizar as festas e acompanhar as procissões" e se refere também aos escravos que os franciscanos alugavam aos moradores de Vila Velha e de Vitória para serviços em geral, fato muito comum durante a escravatura negra no Brasil. Com estes aluguéis, os donos de escravos obtinham ganhos extras. Além disso, nas festas religiosas, uma tradição constante no Brasil colonial e provincial, os escravos eram utilizados para conseguir esmolas para o convento. Foi graças à mão-de-obra escrava que os franciscanos puderam realizar muitas das grandes obras do santuário e do seu entorno, inclusive o calçamento, a pedra, da ladeira tradicional que dá acesso ao monumento, e até a construção das senzalas para teto dos escravos. O cais, com armazém e telheiro contíguo, que existia na prainha de Vila Velha, em frente à entrada do convento, a este pertenceu durante muito tempo, e sua construção foi certamente obra de escravos. Na ilha dos Bentos, mais conhecida com o nome de ilha dos Frades, situada próxima à ilha do Boi, na baía de Vitória, que integrou o patrimônio do convento desde possivelmente meados do século XVIII, antes de ser transferida a particulares, os franciscanos tinham pasto para gado e para cavalos, que deviam ser tratados pelos escravos. A partir de 1870, alguns escravos começaram a ser alforriados pelos franciscanos. Mesmo assim, informa frei Basílio que, em 1872, o convento contava com 42 escravos, sendo 3 pedreiros; 1 carpinteiro; 11 lavradores; 7 cozinheiras; 6 lavadeiras; 3 engomadeiras; 5 costureiras e 6 sem ofício. Em 1880, o número havia caído para 19, dos quais três fugiram.

Lendas da Penha

Sendo o convento de Nossa Senhora da Penha o mais notável monumento religioso do Espírito Santo, era natural que surgisse sobre ele, sobre sua padroeira e sobre o próprio frei Pedro Palácios, fundador do santuário, um conjunto de lendas populares. Uma dessas lendas fala do desaparecimento, por três vezes consecutivas, do quadro de Nossa Senhora, que frei Pedro trouxera consigo, quando, em 1558, chegou ao Espírito Santo. E por três vezes o quadro foi encontrado no alto da penha, numa evidente revelação de que era ali que o frei deveria construir o convento, num ponto situado entre duas palmeiras. Por isso, a primeira igrejinha, que deu origem ao convento da Penha, foi conhecida com o nome de ermida das Palmeiras. Para sua edificação contou frei Pedro com a ajuda de moradores da vila do Espírito Santo. Outra lenda fala da fonte de Nossa Senhora que brotou no alto do penhasco, logo que a construção do convento teve início, possibilitando a realização das obras. A fonte estancou depois que as obras terminaram. É também conhecida a lenda de que frei Pedro Palácios vivia, na companhia de um gato e de um cachorro, na capelinha de São Francisco, que o frade construiu no campinho, no morro da penha. Conta esta lenda que, quando o religioso tinha de se ausentar do morro por algum tempo, deixava, para seus companheiros comer, tantos bolinhos de farinha quantos seriam os dias de sua ausência. E os animais comiam apenas cada uma das suas rações diárias, sendo a última delas no regresso do frei. Sobre a imagem de Nossa Senhora da Penha existe a lenda de que a pessoa a quem frei Pedro encarregou de fazer a sua encomenda, em Portugal, esqueceu de fazê-lo. Na véspera de voltar para o Espírito Santo, esse encarregado recebeu, de um desconhecido, a imagem de Nossa Senhora, esculpida em madeira de acordo com as indicações de Frei Pedro. Faz parte também do lendário da Penha a visão que tiveram os holandeses, no século XVII, quando, ao tentar assaltar o convento, foram impedidos por soldados a pé e a cavalo que desciam das nuvens, em torno do santuário, para fazer a sua defesa. Esta lenda serviu de inspiração ao pintor Benedito Calixto, para um dos quadros que se acha exposto na galeria ao lado da igreja do convento. Ali está também, do mesmo autor, um outro painel que tem por motivo a procissão marítima que conduziu a imagem de Nossa Senhora da Penha até Vitória, para acabar com a grande seca de 1769 que afetava a sede da capitania que estorricava as matas dos seus morros, enquanto a do convento se mantinha viçosa. Diz a lenda que, logo após a procissão, a chuva caiu.


 

O Convento e Nossa Senhora da Penha no Folclore Capixaba

A devoção do povo capixaba à Nossa Senhora da Penha faz com que o convento e Nossa Senhora sejam motivos recorrentes no campo do nosso folclore. Assim, quer por meio de ditos ou frases-feitas, quer na poesia lírica popular, quer nas toadas de congo, o convento e a Senhora da Penha estão presentes. Exemplo disso é a frase-feita, ainda muito ouvida entre nós, principalmente no interior do Estado, que diz: quem foi ao convento, perdeu o assento —, aplicada a quem perde o lugar para uma outra pessoa. Guilherme Santos Neves, o maior estudioso do folclore capixaba, lembra que "é natural que o povo, devoto de Nossa Senhora da Penha, também lhe dirija ou dirigisse, através da poesia, o seu testemunho lírico e cantante", salientando ainda que é copioso o rol de trovas existentes sobre o tema. Das muitas trovas que foram recolhidas por esse mestre do folclore, podem ser citadas as seguintes:

Fui no convento da Penha,
Visitar a Mãe querida.
Agora eu posso dizer
Que já fui ao Céu em vida!

Fui no convento da Penha,
Todos subiram, eu fiquei...
Dai-me a mão, Nossa Senhora,
Que eu também subirei...

Nossa Senhora da Penha
Tem o seu manto de alegria.
Deus lhe deu os seus soldados
Pra defender a baía.

Sobre esta última trovinha, salienta Guilherme Santos Neves que sua fonte de inspiração deve estar ligada "à conhecida lenda do ataque holandês a Vila Velha, repelido por misterioso exército - os soldados da Virgem - o qual, dentre as nuvens, surgiu, desbaratando os invasores".

Nas toadas das bandas de congo - grupo folclórico típico do Estado do Espírito Santo, presente nas festas populares de diversos municípios capixabas - as referências ao convento e à Nossa Senhora da Penha também são constantes. Muito conhecida é a toada:

Ô iaiá,
Você vai à Penha?
Ô me leva,
Ô, ô, me levaaaaa!
***

Localização: Alto do morro da Penha, Prainha, Vila Velha.
Tombamento: SPHAN, 21/9/1943, processo n. 232-T, inscrição no Livro Histórico n. 224, fl.37.

Proprietário: Ordem Franciscana.
Texto: Luiz Guilherme Santos Neves
Fotos: Guilherme Santos Neves

   

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